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TDAH Fortaleza

TDAH Fortaleza. Psicoterapia e Coaching Fazemos indicações para especialistas de nossa confiança. ferbryt@gmail.com











Prof. Fernando Bryt Trosman

   Uma em cada dez crianças e adolescentes sofre com problemas psicológicos suficientemente graves para afetar seu desenvolvimento e sua vida cotidiana, dos quais a maioria pode viver normalmente se receberem o tratamento adequado por parte de pais, professores e profissionais de saúde mental. Entretanto, se estima que somente 10 % dos menores com problemas recebem o tratamento indicado.
Uma das causas fundamentais desta situação é a dificuldade dos pais, educadores e médicos em detectar e atribuir os comportamentos das crianças a ditos transtornos. A psicoeducação e a sensibilização de pais e educadores contribuem para a prevenção primária, antes que apareçam os transtornos;  a prevenção secundária, referida à detecção precoce dos transtornos; e a prevenção terciária, a reabilitação do transtorno quando já está instalado. A psicoeducação contribui para a prevenção dos transtornos psicológicos já que os adultos sensibilizados detectam os problemas precocemente e podem agir a tempo.

1. Transtornos mentais
Os transtornos mentais são comuns na população em geral, podem padecer deles pessoas provenientes de todas as classes socioeconômicas, culturais e educacionais. Podem ser transitórios ou crônicos, leves ou graves. É necessário identifica-los e oferecer tratamento a tempo já que uma das características fundamentais dos transtornos é sua associação a outro transtorno, se não é tratado adequadamente, e sua passagem para a cronicidade quando não são tratados a tempo.
Um transtorno mental é um conjunto de sintomas e sinais que configuram uma síndrome conhecida pelos profissionais de saúde mental. Esta síndrome é diagnosticada como transtorno quando afeta o funcionamento social, escolar (laboral) ou familiar e/ou quando causa um mal-estar clinicamente significativo no sujeito que padece dele ou nas pessoas que lhe rodeiam.
Os transtornos têm uma gênese multicausal, onde intervêm as características e conflitos psicológicos do sujeito, a predisposição genética e os acontecimentos vitais (fator ambiental)
A prevenção dos transtornos mentais em crianças e adolescentes é direcionada às características psicológicas dos menores e às condições ambientais, já que nas predisposições genéticas atualmente não se pode intervir.
As características psicológicas que podem proteger um menor de padecer de transtornos mentais são altamente influenciáveis pela educação moral-emocional no âmbito familiar, escolar e comunitário. Também, as condições ambientais são determinadas em grande parte pelo clima e a comunicação familiar, escolar e comunitário. É nestes âmbitos onde costuma intervir os programas preventivos e de promoção de saúde mental.
Revisão bibliográfica sobre a epidemiologia dos transtornos mentais e problemas psicológicos em população escolar.

                                           Transtornos disruptivos (conduta)


Calcula-se que 5,5% das crianças em idade escolar apresentam problemas de comportamento agressivo. (Hoven et al, 2004 em SIS.Saúde, 2010).
Déficit de atenção com hiperatividade TDAH 3 – 5% (Hoven et al, 2004 em SIS.Saúde, 2010)
Transtorno negativista desafiante Entre 1,7 e 9,9, de acordo a média sócio-cultural com uma média de 5,7% (WooD, 2000).
Estas crianças causam sofrimento escolar e familiar. Com freqüência suas condutas são atribuídas à falta de educação e são catalogados como “mal educados”.  A rejeição do meio se converte em um círculo vicioso que estanca sua readaptação.
Os transtornos disruptivos aumentam a possibilidade de acidentes e condutas suicidas, terceira causa de mortalidade em adolescentes.
Transtorno de conduta dissocial  (6-16%) (Wood, 2000).
Muitas vezes, junto com elementos genéticos e psicossociais, é o resultado da falta de tratamento adequado dos transtornos disruptivos mencionados acima.


                                                    Transtornos afetivos     


Transtornos do estado de ânimo
Estima-se que 2,5% das crianças e 8,3% dos adolescentes podem sofrer depressão  e até 7% desses adolescentes deprimidos podem tentar autoeliminar-se (Hoven et al, 2004 em SIS.Saúde, 2010). Cada ano se suicida uma média de 2000 adolescentes nos EEUU, ocupando a terceira causa de morte adolescente e se estima que  tentam isso dois milhões, dos quais só 700.000 recebem atenção sanitária depois da tentativa (Shaffer, 2001). 
20 anos atrás não se aceitava, universalmente, que uma criança pudesse se deprimir. Hoje se considera uno dos transtornos mais predominantes (KowaTCH, 2000).  Apesar de que ambos são motivos de consultas freqüentes nos centros de saúde por manifestações somáticas, são raramente detectados por pediatras. São os transtornos menos reconhecidos pelos adultos. Dificultam o rendimento acadêmico e constituem um grande sofrimento para os menores. São um fator de risco para o alcoolismo, o consumo de substâncias e os transtornos da pessoalidade nos adultos
Transtornos de ansiedade Medos, vergonha excessiva, inquietação.
Aproximadamente 13% das crianças e adolescentes podem sofrer transtornos de ansiedade. (Hoven et al, 2004 em SIS.Saude, 2010).

Outros problemas de saúde mental
Maltrato (físico- psicológico -negligência) Abuso sexual. Abuso de drogas. Transtornos de alimentação.


                                       
No Brasil destaca-se o estudo de Tabauté (Fleitlich-Bilyk; Goodman, 2004) “A mostra foi constituída por 1.251 escolares de 7 a 14 anos. Foi utilizado o Questionário DAWBA para pais, professores e auto-reportes. Se encontrou mais T. externalizados em meninos que em meninas e se observou um aumento de depressão com a idade.” (De a Barra, 2009, p. 307 em Fleitlich-Bilyk, Goodman, 2004).

2. A depressão
O estado de espírito depressivo é uma manifestação afetiva normal.  Semelhante aos adultos, as crianças têm dias os quais se sentem irritadas, de mal- humor, sem motivação ou tristes. Este estado afetivo negativo, é causado por múltiplos fatores, fisiológicos e ambientais que não somos capazes de controlar. Poder reconhecê-lo é o primeiro passo para superá-lo. Ao reconhecer que agimos e pensamos de forma negativa porque estamos anímicos, delimitamos este mau momento, entendendo que se trata de algo passageiro, que amanhã estaremos melhor.
Não podemos manipular diretamente nosso sistema fisiológico, muitas vezes também não podemos controlar os acontecimentos externos, mas sim podemos manipular melhor nossos pensamentos e crenças, freqüentemente envoltas nas causas e no mantimento destes estados negativos. Alguns adultos aprendem a reconhecer seus estados depressivos. As crianças em crescimento ainda não os podem reconhecer por si mesmas.
Estes estados negativos normais duram poucos dias e são leves, já que ainda que estejamos mal, nos permite pensar positivamente acerca do futuro. Quando estes estados se prolongam no tempo ou sua intensidade é maior e se pensa de forma negativa e pessimista acerca do futuro, é possível que estejamos diante de um problema psicológico; a depressão; se bem que este é um problema comum na população em geral, não há que deixa-lo passar já que se complica sem tratamento e gera outros transtornos relacionados, como a ansiedade.
Semelhantes aos problemas de ansiedade, há 20 anos, a depressão em crianças e adolescentes era um tema controvertido entre os profissionais da saúde mental. Até então, os critérios para determinar se uma criança ou adolescente estava deprimido eram extrapolados dos critérios conhecidos para os adultos. Era difícil que fosse aceito no âmbito científico que uma criança pudesse ficar deprimida, hoje em dia são muitas as investigações epidemiológicas que assinalam à depressão como um dos transtornos psicológicos mais freqüentes nas crianças e adolescentes.
A que se deve a dificuldade de aceitação da depressão infantil? Deve-se a seu peculiar modo de manifestar-se; é muito difícil encontrar uma criança que aceite o angustiante sentimento de tristeza, não é freqüente que uma criança diga “me sinto triste”.
Uma criança depressiva se manifesta através de seu comportamento; está irritada, nada lhe cai bem, se queixa, é difícil de satisfazê-la, chateia-se com facilidade, se mostra inquieta ou agressiva, com baixo rendimento escolar ou baixa motivação; ou através de seu corpo,  queixa-se de dores infundadas. Hoje em dia, não é comum que professores e pediatras detectem a depressão, inclusive quando um grande número de crianças chega ao médico por queixas somáticas, sem causa orgânica.
As pesquisas recentes vêm confirmar o que muitos clínicos afirmavam mediante sua experiência:
     As crianças e os adolescentes deprimidos se manifestam de forma diferente dos adultos. Na atualidade, os estudos comprovam um consenso na comunidade profissional acerca dos critérios e diagnósticos da depressão nos menores. 
Pelo seu próprio nível de desenvolvimento emocional, se uma criança está realmente triste, é difícil que possa reconhecê-lo e menos ainda, expressá-lo em palavras. A tristeza depressiva é um sentimento tão angustiante, tão inaceitável e ingovernável para uma criança, que ela tenta afastar-se do mesmo, negando-o.
O sentimento de tristeza prolongado responde a um estado de espírito interior, que se manifesta nas crianças e adolescentes mediante a irritabilidade ou mal-humor, baixa tolerância à frustração, tédio ou perda de prazer em atividades que antes gostava, baixa motivação, queixas, ou insatisfação. Também, a criança pode possuir baixa autoestima, manifestada pela crença de não ser querida pelos demais ou de ser pouco valorizada, de ser menos que os outros ou de ser tola, feia, e que tudo dá errado. Outras vezes, o que aparece são sentimentos de culpa. Em casos mais específicos surgem idéias pessimistas sobre o futuro ou sobre a morte, com um fundo de ansiedade considerável.
Muitas vezes, estas condutas não são fáceis de detectar pelos pais e educadores, já que são sintomas de manifestação interna (sentimentos e pensamentos) que as crianças não costumam compartilhar. Inclusive constituem um desafio para o psicólogo clínico, já que às vezes, estes sentimentos são manifestados ou se deixam transparecer por um aparente sentimento contrário: Por exemplo, uma criança que se mostra com uma autoestima sobrevalorizada (inflada, que tudo pode) pode ser uma criança que precisa inventar essa fantasia para esconder a si mesmo, quão pouco se quer quão pouco se valoriza. Por sua vez, uma criança deprimida pode manifestar-se como uma criança muito alegre, com condutas bobas e palhaçadas. Estas condutas podem coexistir com momentos em que a criança esteja alegre e brinca normalmente, mas as condutas inadequadas tendem a ir aumentando.
Algumas crianças manifestam condutas agressivas, birras, choram por tudo ou têm um pranto difícil de acalmar. Pode-se distinguir dois tipos de manifestação e todos suas matizes intermediárias.  As crianças deprimidas que baixam seu nível de atividade, com grande carga de sentimentos e pensamentos depressivos, que não manifestam. E as crianças deprimidas que se manifestam com problemas de conduta, birras. Estas últimas são conhecidas como “crianças explosivas”, por seu alto nível de irritabilidade, e pobre controle emocional. Em momentos críticos, ambos baixam seu rendimento escolar, sendo este feito o que muitas vezes desencadeia as chamadas de atenção do professor e a consulta dos pais ao psicólogo.
Mas se sua manifestação mascarada e seus critérios diagnósticos comprovados muito recentemente dificultam a detecção precoce por parte de pais, professores e pediatras, há um elemento central que dificulta em grande parte seu reconhecimento:
    A nós adultos nos angustia em demasiado aceitar que nossos filhos possam estar sofrendo sentimentos depressivos.

3. Hiperatividade e desatenção
Mais de uma de cada 30 pessoas (5%) sofrem com o transtorno por déficit de atenção com ou sem hiperatividade. Este transtorno está caracterizado por um desnível na capacidade de atenção e regulação motora; que lhes causa dificuldades para manter a atenção constante numa tarefa prolongada, como assistir às aulas, fazer as tarefas ou ao ter que escutar aos adultos.
Freqüentemente estas crianças se esquecem de suas coisas, dirigem a atenção para outras atividades antes de terminar una tarefa ou têm dificuldade para permanecer sentado.Há crianças predominantemente desatentas, que não manifestam hiperatividade e os que são predominantemente hiperativos.
A falta de regulação da atividade motora (hiperatividade) se relacionada com a dificuldade de pensar antes de agir: Impulsividade. Condutas impulsivas, como atravessar a rua sem olhar para os lados, responder antes de que se termine de perguntar, não esperar pela sua vez, bater em seus companheiros quando o que quer é brincar e outras condutas de risco nas que parece não medir o perigo. Esta síndrome é conhecida como transtorno por déficit de atenção com ou sem hiperatividade e padecem dela uma grande porcentagem de crianças e adolescentes.
Estas crianças eram antes tidas como malcriadas, brigonas, baderneiras, inclusive hoje antes de serem diagnosticadas são consideradas com estas qualificações já que seu comportamento é bastante irritante em casa e na escola. As crianças predominantemente desatentas passam a imagem de crianças um tanto quanto tolas, entretanto seu problema nada tem a ver com falta de inteligência.
Não se informou adequadamente aos pais, professores e pediatras sobre a detecção precoce desta síndrome, pelo que atribuem sua conduta ao seu caráter, à má intenção da criança: É comum culpar aos pais pela má educação e falta de limites. Os pais se sentem angustiados e culpados, fizeram tudo o que foi possível, experimentaram diferentes métodos e nada pareceu funcionar. As professoras se sentem muitas vezes frustradas com crianças que parecem não estarem interessadas, que não seguem as instruções e que bagunçam a classe.
As crianças constroem sua identidade e sua autoestima a partir do que lhes refletem os demais sobre elas mesmas. A criança com dificuldades deste tipo, recebe do meio uma imagem negativa, ele mesmo se considera mau, ao mesmo tempo que descobre que isso lhe traz também alguns benefícios, como o medo de seus companheiros ou seus risos quando adota o papel de palhaço.
É importante diferenciar a agressividade (intenção de fazer dano) da impulsividade (dificuldade em controlar seus impulsos). Sua impulsividade as faz estarem sempre metidas em confusões e brigas. Muitas crianças impulsivas são catalogadas como agressivas, causando-lhes dessa forma um dano considerável a sua personalidade. Se não são compreendidas, estas crianças terminarão sendo realmente agressivas pelos recorrentes ataques que recebem e por sua identificação com o papel de malvado marcado pelos adultos.
Estes menores costumam serem inteligentes e criativos. Entretanto muitas vezes fracassam na escola. O prognóstico sem tratamento não é bom, deriva em transtornos de conduta, transtornos depressivos e consumo de substâncias. Com tratamento, no qual participam pais e professores, existe melhora, principalmente quanto aos sintomas associados, ao passo que melhora a qualidade da vida familiar.
Comorbidade
A comorbidade se dá por outros transtornos que coexistem com o TDAH ou que são provocados por este na evolução do mesmo. Os transtornos associados pioram dramaticamente o prognóstico, por isso tem que se enfrentar os elementos predisponentes: Desmoralização (a criança sofre rejeição de seus companheiros e seus fracassos acadêmicos e sociais, baixa autoestima, construção de identidade negativa ou instável (“sou mau”, palhaço), aparecimento de mentiras e enganos, elementos de insegurança e ansiedade e crise no funcionamento familiar.

Tábua I Comorbidade do TDAH
60%
Transtorno negativista-desafiante
20 – 40 %
Transtorno de conduta dissocial
20 %
Ansiedade ou depressão


Tratamento multimodal
    Existe consenso entre os profissionais da saúde mental sobre o tripé terapêutico:
1.      Tratamento psicológico
2.      Psicoeducação (informação à criança, aos pais e ao professor sobre as características do transtorno e pautas educativas específicas)
3.      Psicofármacos
A combinação entre tratamento psicológico cognitivo-comportamental e medicação tem dado os melhores resultados. Quando a criança manifesta problemas acadêmicos devido ao transtorno, é indicada a reeducação psicopedagógica.
Tanto a criança quanto a família devem atribuir as melhorias não só à medicação mas também a outros fatores sobre seu controle; estratégias psicológicas de controle (família) e de autocontrole (criança). Quando os objetivos psicoterapêuticos vão sendo cumpridos o psiquiatra responsável pelo tratamento decidirá se a medicação deve ser progressivamente diminuída.
Tratamento psicológico
1.      Programas terapêuticos em grupo.
Os avanços no conhecimento do transtorno, suas características cognitivas e emocionais específicas fizeram proliferar os programas terapêuticos grupais dirigidos a melhorar a atenção, o controle de impulsos e a capacidade de tolerar as frustrações. Assim como, promover o autocontrole emocional, a autoestima equilibrada, as condutas pró-sociais, as habilidades sociais e de resolução de conflitos interpessoais.
Destacam-se os cursos de habilidades sociais e a terapia através do esporte. Este último conta com a vantagem de se realizar num meio natural (grupo de crianças) e estimulante (a prática esportiva).
2.      Treinamento para pais em habilidades educativas.
Enquanto que a educação e o clima familiar são um dos principais fatores de proteção contra os transtornos mentais, todos os pais deveriam aprender técnicas educativas saudáveis para a educação de seus filhos, que os façam sentir-se seguros e eficazes em sua função educativa.
Mais ainda, os pais de crianças com TDAH que apresentam dificuldades específicas na aprendizagem moral-emocional. Moral (interiorização de normas de relação interpessoal, o que se pode fazer e o que não) Emocional (dificuldade em reconhecer e expressar adequadamente seus sentimentos).
3.      Psicoterapia individual para a criança e sua família.
A psicoterapia é uma disciplina científica e tratamento psicológico por excelência. Apoiada pela OMS, é indicada para tratar o sofrimento psíquico. É o tratamento de primeira ordem quando existem transtornos ou problemas afetivos (ansiedade – depressão), ou de conduta. Tem a vantagem de personalizar e aprofundar-se em cada caso, como único e irrepetível.
O psicoterapeuta  (professional da saúde especificamente formado em psicoterapia) com uma perspectiva integradora, atua como treinador pessoal (sistema de coaching) da criança para acompanhá-la, motivá-la e orientá-la a enfrentar suas dificuldades de forma criativa e saudável, construindo estratégias (“truques”) de autocontrole. Também, o psicoterapeuta desenha junto aos pais um plano de ação específico para a criança e supervisiona sua aplicação em casa e na escola.
Ainda que tenha perdido espaço para as medicações e os programas grupais (que estiveram no auge na última década), consideramos que a psicoterapia individual cognitiva-comportamental (com os pais como coterapeutas em casa) deve voltar a assumir o papel protagônico no tratamento psicológico da criança e do adolescente com TDAH, complementada com os programas terapêuticos grupais, o treinamento dos pais, a reeducação psicopedagógica se necessária e a medicação se necessária. 
Veja no final da página Dicas de este blog, articulo sobre tratamento de TDAH em adultos

A ansiedade é um mecanismo psicológico que, na sua medida adequada, funciona como sistema de alarme dando à criança a precaução ajustada a situações de potencial perigo. Certo grau de ansiedade controlada é funcional e esperada. Entretanto, num grande número de crianças e adolescentes, a ansiedade responde de forma exagerada. A função de alerta transborda, causando sofrimento interno, podendo afetar a saúde física, a adaptação social e o rendimento acadêmico do menor.
A ansiedade manifesta-se através:
  • Do pensamento; com medos ou preocupações excessivas, imposição de imagens angustiantes.
  • Do corpo; com sudorese, tensão muscular, dores abdominais ou cefaléias.
  • Do comportamento; inquietação, evitar as situações temidas, timidez.
Pode afetar a conciliação do sono ou interrompê-lo com pesadelos ou sonhos de angustia (a criança acorda sobressaltada sem lembrar o que foi sonhado).
4.1 Os medos e sua evolução
No primeiro ano aparecem os medos relacionados com ruídos fortes ou pessoas estranhas. Nos pré-escolares é comum o temor à separação dos pais, aos animais, à escuridão, às tempestades, aos seres fantásticos como bruxas ou fantasmas.
O início da idade escolar (6-12 anos) está marcado pelos temores sociais, teme passar-se por ridículo diante dos seus, o baixo rendimento escolar, o dano físico e as desavenças entre os pais. Na puberdade podem surgir preocupações referentes a doenças e acidentes. Na adolescência predominam os medos que têm a ver com as relações interpessoais e a perda da autoestima (a angústia que faz com que se sintam inferiores aos outros).
Quando os medos e preocupações são produzidos com maior freqüência ou maior intensidade ou causam sofrimento à criança ou alteram suas atividades sociais ou acadêmicas, podemos falar de um possível transtorno de ansiedade.
Muitas vezes, considera-se que os menores deveriam se sobrepor aos sintomas usando tão somente a força de vontade, no entanto isto não é possível sem tratamento.
Os pesadelos repetitivos, os sonhos de angústia, as queixas sobre dores ou a inquietação ansiosa podem estar evidenciando que a criança está sofrendo uma ansiedade excessiva. Se estes sintomas se prolongam é preciso consultar o especialista.
4.2 As fobias
     As fobias são medos excessivos a objetos ou situações que causam comportamentos de evitação.  A pessoa evita o objeto (ex. animais) ou situações (ex. falar perante um grupo de pessoas). As fobias são medos patológicos.
4.3 As crianças hiper-preocupadas
Um dos transtornos de ansiedade de maior freqüência em crianças e adolescentes é a ansiedade generalizada (AG). Estas crianças sofrem por estarem continuamente preocupadas com coisas ruins que  lhes possam ocorrer. É caracterizado por pensamentos denominados catastróficos, como possíveis doenças dos pais ou outros familiares, acidentes ou mortes. Por sua vez, qualquer fato do cotidiano pode ser fonte de preocupação, relações com os amigos, rendimento escolar ou esportivo.
Estas crianças não costumam manifestar suas preocupações, já que uma parte sã delas pode admitir que são assuntos sem importância real (bobagens) e que não querem colocar-se em evidência ao expressá-los. Contudo a preocupação não cessa.
É difícil, para pais e professores detectar um menor com AG já que muitos deles (não todos) são vistos aos olhos dos adultos como crianças obedientes e estudiosas (às vezes perfeitas). Costumam chegar ao especialista depois de queixas somáticas, dores abdominais ou cefaléias sem causa orgânica, ou um estado avançado de transtorno, o qual começa a interferir na vida social ou acadêmica, ou  a causa  da depressão vinculada  freqüentemente à AG sem tratamento.
4.4  Ansiedade por separação
As crianças afetadas pelo transtorno de ansiedade por separação, sofrem um mal-estar excessivo quando ocorre ou se antecipa uma separação a respeito do lar ou de algumas das figuras significativas (pais, irmãos, avós). Preocupam-se com a possibilidade de que as figuras significativas sofram algum dano, sofram algum acidente ou que sejam seqüestrados.
Podem resistir ir à escola, a festas infantis ou dormir fora de casa, por não querer separar-se de seus pais. Podem ter pesadelos recorrentes com a temática da separação. Quando ocorre ou é antecipada a separação (ex. ir à escola) se queixam de dores assintomáticas (cefaléias, náuseas, vômitos, dores abdominais).

5. Obsessões e compulsões
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), é um transtorno de ansiedade, o 4º mais freqüente, podendo alcançar 5% da população geral. O TOC se configura pela presença de obsessões e/ou compulsões repetidas que causam um grande sofrimento e interfere na vida social e acadêmica do menor que dele padece.
As obsessões são idéias ou pensamentos desagradáveis e repetitivos. Manifestam-se insistentemente, de forma incontrolável, causando uma preocupação e mal-estar persistente e um alto nível de ansiedade. As compulsões são comportamentos que a criança realiza repetidamente para aliviar a ansiedade.

5.1 Um caso de TOC[2]
Fran, de 09 anos, estava sentado em silêncio em sua carteira ao fundo da sala apagando a última palavra que havia escrito. Devia ter muito cuidado porque já havia apagado essa palavra tantas vezes que o papel começava a rasgar-se. Gostaria de ter pedido uma folha nova a professora, mas não se atrevia. Olhou ao redor aos demais alunos e percebeu que quase todos haviam terminado o trabalho. Ele se quer havia escrito duas linhas completas! Fran começou a ficar preocupado. Sabia que muito em breve a tia lhes pediria que entregassem os trabalhos e, outra vez, teria problemas por não havê-lo terminado.
Permaneceu sentado sentindo-se lento e estúpido e, sobretudo, triste. Sabia por que apagava tanto. Não o fazia porque quisesse, mas porque sentia que devia fazê-lo. Por causa do TOC que padecia, Fran queria fazer tudo com perfeição.
É claro que a outra parte do Fran não afetada pelo TOC sabia que, por mais que tentasse, não podia ser perfeito todo o tempo. Mas a parte afetada pelo TOC sempre estava preocupada em fazer tudo com perfeição. Por exemplo, a palavra que escrevia. Não era nada do outro mundo, só uma palavra. Mas não conseguia fazer o “a” de forma que ficasse bem alinhado, por isso que apagava uma ou outra vez. Como podia explicar-lhe seus sentimentos à tia para que o entendesse? De repente, a professora aproximou-se da sua mesa e recolheu o seu papel.
—Vejo que hoje também não terminou seu trabalho, Fran –disse ela balançando a cabeça.
À tarde, ao terminarem as aulas, a tia Chamou o Fran.
— Tenho um recado para sua mãe. Entregue-o a ela, por favor.
Durante todo o caminho de volta ia se perguntando o que tinha escrito no recado.
Estava nervoso porque, pela olhada que fez a tia quando lhe entregou o recado, estava certo de que não seriam boas notícias. Quando Fran chegou em casa, doía-lhe o estômago.
— “Tô” em casa – gritou, deixando sua mochila e correndo para acima para o seu quarto.
Sua mãe o encontrou pouco despois enrolado em sua cama.
— Um mal dia, querido? – perguntou-lhe tirando o cabelo grosso e escuro dos olhos.
— A tia te enviou um recado, mamãe – disse Fran–. Creio que meti os pés pelas mãos outra vez – murmurou com tristeza.
Sua mãe saiu do quarto e retornou pouco depois com a carta na mão. Sentando-se ao lado de Fran na cama e lhe disse:
— Por que não a lemos juntos? “Querida Sra. Fernandez, Fran não faz os trabalhos de classe. Embora ele seja muito inteligente, não tenta fazê-los. É preciso que fale a senhora com ele”.
Dobrando a carta sua mãe disse:
— Bem Fran, acredita que não faz os trabalhos por preguiça?
— Não mamãe –respondeu Fran–. Eu tento de verdade, mas às vezes as coisas não saem como quero. Como hoje, que fiquei enganchado em una palavra estúpida só porque não me saía uma das letras.
Sua mãe passou um braço pelos seus ombros:
— Não acredita que já está na hora de contar a tia sobre o TOC e como isso te faz agir às vezes?
Fran murmurou:
— Não queria que ela soubesse, mãe, não quero ser diferente dos outros.
Sua mãe lhe respondeu:
— Sabe de uma coisa, Fran? Você é diferente dos outros. O TOC é só uma pequena parte dessa diferença, porque só é uma pequena parte de ti como pessoa. Creio que já é hora de ajudar à tia a entender o que se passa com você. O que você acha?
No dia seguinte, antes de começar a aula, Fran e sua mãe foram ver a tia. Fran lhe disse que estava fazendo um tratamento para TOC, e teve que explica-lo a sua professora. Que nervoso estava! Explicou à tia por que não pode acabar o trabalho escrito do dia anterior. Depois, suspirou fundo e lhe falou sobre outras vezes em que ficou preocupado e ansioso na escola. Contou-lhe coisas como que, às vezes, sem importar quanto tempo tivesse que passar no banheiro, não se atrevia a sair para o corredor até que visse passar outro menino. Explicou-lhe que, embora SOUBESSE que era bobagem, a parte do TOC de sua pessoa lhe fazia sentir que havia algo mau no corredor que podia lhe “agarrar”.
— Me preocupo muito –disse Fran a sua professora, com as palavras saindo aos garranchos–, mas tento fazer com que não me note. A tia lhe respondeu:
— Fran, você é um dos alunos mais inteligentes que tenho. Me alegro muito de que me explique isto sobre o seu TOC; assim agora posso entender por que tem tido problemas com seus trabalhos. Tu, tua mãe e eu formamos uma equipe e todos temos que colaborar para que possa sentir-se bem na escola. Agora, falemos sobre o que podemos fazer em sala para te ajudar quando o TOC te bloqueia e para que não te sinta frustrado.
Esta história reflete a realidade de poucas crianças, a maioria dos afetados, não sabe que sofrem um transtorno, se creem tolos ou “medrosos” ou que vão enlouquecer. Também não o sabem pais e professores, o que faz com a criança tenha que enfrentar situações humilhantes, afetando sua autoestima e seu desenvolvimento.
A propósito de em estudo retrospectivo de adultos com TOC Constance H. Foster (2000) relata que:
• “Durante os anos de crescimento, para 80% dos adultos com TOC foi difícil explicar seus sintomas aos outros. A vergonha, a falta de conhecimento sobre o transtorno e o temor de não serem compreendidos foram os motivos mais citados para permanecerem em silêncio.
• As pessoas que responderam à pesquisa indicaram que não contaram a ninguém sobre seus sintomas obsessivos e compulsivos até depois de 20 anos em media.
• Quando perguntados sobre o que teria ajudado a preencher a falta de tratamento, as duas respostas mais frequentes dos participantes na pesquisa foram um diagnóstico mais precoce (27%) e um tratamento mais precoce (24%).
Os próprios pacientes com TOC testemunham à necessidade de uma maior compreensão do seu problema.
• A maioria das pessoas que responderam à pesquisa disse que o TOC influenciou de forma negativa sobre os seguintes aspectos em seus anos de desenvolvimento: disfrutar a infância (81%), relação com seus pais (63%), rendimento escolar (58%), participação em atividades (56%) e capacidade de fazer e manter amigos (55%).”
Relatos de crianças diagnosticadas com TOC [3]
“ Só quando tinha 5 ou 6 anos foi que percebi pela primeira vez. Mantive isso em segredo o tempo que pude”.
Carlos, 14 anos
“Foi um grande alívio sabê-lo [que tinha TOC]. Pensava que estava realmente louco, ou que algo não funcionava bem dentro de mim”.
Oscar, 12 anos
“Quando me disseram que isso também acontecia com outras pessoas não podia crer!”
Carmen, 11 anos
“Os pais não costumam pensar que seu filho sofre um transtorno psicológico: tendem a considerar que só são “coisas de crianças” ou raridades que irão passando com a idade. Alguns repreendem o menino e, outros, se tornam cúmplices. Quando o certo é que, se não é tratado o transtorno, a frequência e intensidade das obsessões e as compulsões da criança geralmente irão aumentando e a doença se agravará.”  (Foster, 2000)

6. O papel dos adultos  na prevenção dos transtornos de ansiedade.
Se a criança sofre com algum medo ou preocupação excessiva é fundamental não negar seus sentimentos. Ainda que sejam fantasias ou pareçam bobagens, existe na mente da criança e isso a afeta de forma real. Utilize a escuta ativa. Para transmitir-lhe tranquilidade e segurança não é necessário negar aquilo que a criança está sentindo. É importante acompanhá-lo dando-lhe estratégias de enfrentamento e confiança de que ele poderá superar os medos, pouco a pouco.
Devido que na etiologia dos transtornos de ansiedade os fatores genéticos e o clima de apreensão familiar são freqüentes Se seu filho tem medos ou preocupações, revise seus próprios medos como pai ou mãe e tente passar confiança à criança para seu crescimento. Não permita que a criança evite por muito tempo situações de medo, do contrário o medo aumentará. Se os medos e as preocupações se prolongam consulte um especialista.
O diagnóstico de transtorno de ansiedade produz um grande alívio às crianças e adolescentes que padecem dele já que compreendem que seus pensamentos (exagerados, tolos ou desagradáveis) não são produto da loucura, nem de uma fraqueza de caráter, mas de um transtorno que padecem muitas crianças e adolescentes como ele, que tem cura e logo será ajudado.